Várias empresas brasileiras colocaram os pés nos Estados Unidos nos últimos anos, principalmente em Miami, hoje considerada o "quintal" da América Latina.
A mais recente que chegou à Flórida foi a Vivenda do Camarão – pioneira rede de frutos do mar do Brasil –, que desembarcou aqui com o nome de "Shrimp House". A primeira casa foi aberta no início de dezembro e, este mês, será inaugurado um segundo restaurante no Dadeland Mall, um dos mais tradicionais shoppings da região, no sul de Miami.
O investimento? US$ 500 mil por unidade. E olha que nenhuma é franquia. Todas são uma parceria entre a Vivenda de Camarão e o Oxford Group, uma das maiores consultorias que atendem brasileiros nesta região.
Mas a Vivenda é só mais um empreendimento da Oxford, que fez 40 anos no mercado internacional em 2013, trabalhando em diversos setores, como financeiro, imigratório, marketing, alimentício, comércio exterior e imobiliário.
E o segredo do sucesso dessa parceria, como de todas, diz Carlo Barbieri Filho, presidente da Oxford, é "sinergia".
"Você só terá sucesso se compartilhar o trabalho, o sucesso com alguém. Tudo se soma e tudo se realiza na medida em que você tenha parceiros que ganhem tanto ou mais que você e que se dediquem tanto ou mais que você àquela atividade especifica", diz Barbieri, que, aos 66 anos, não perdeu o idealismo da juventude.
E hoje Direto de Miami vai contar a história desse empresário, um "teórico e idealista" na juventude, que se tornou um dos maiores empreendedores brasileiros na Flórida.
Barbieri sempre adorou estudar. Fazia direito de manhã, jornalismo à tarde e economia à noite. Até que seu pai, o banqueiro Carlo Barbieri, já falecido, deu um basta. Disse que era muito estudo e pouco resultado. O filho precisava deixar de ser "vagabundo" e começar a trabalhar, ganhar dinheiro, conta Barbieri Filho, com bom humor.
Com 20 anos, ele seguiu as ordens do pai. Largou a faculdade de jornalismo e deu início à sua carreira empresarial de grande sucesso.
O pontapé inicial e a objetividade no mundo corporativo foram dados pelo pai, mas seu grande conselheiro foi o avô paterno, Fioravante Barbieri. "Meu avô era pautado por humanidade, por desenvolver um negócio sempre procurando ser justo com os colaboradores", diz Barbieri. "Meu avô me deu toda a formação ética, moral e humana."
E hoje é com essa mesma formação do avô, um imigrante italiano que chegou ao Brasil com 12 anos de idade, que Barbieri é responsável pela vinda e sucesso da adaptação de muitos brasileiros imigrantes em Miami.
Sua empresa de consultoria imigratória recebe atualmente, por semana, dois casos novos de pessoas no Brasil buscando o visto americano "EB5", que requer um investimento de US$ 500 mil cada em troca da residência oficial nos Estados Unidos, ou seja, para receber o "green card".
"Há quatro anos, fazíamos um ‘EB5’ a cada seis meses", diz ele. "Os Estados Unidos estão se beneficiando da vinda de empreendedores, de pessoas competentes e de recursos."
Considerado aqui um pioneiro e visionário, Barbieri diz que a tendência em 2014 é manter ou aumentar esse número, não só entre brasileiros.
"Temos percebido uma presença grande de clientes novos de França, Venezuela, Argentina", diz. "As pessoas estão buscando um país que, apesar de ter impostos altos, eles são justos."
E é justamente esse forte senso de justiça que também pauta sua vida pessoal. Algumas passagens o marcaram tanto que o fizeram mais forte e solidário.
Há cerca de 30 anos, sua esposa Silviana faleceu de câncer. O casal tinha um filho, mas Sininha, como era conhecida, queria outros. A doença a impediu de realizar seu sonho, mas ela deixou uma missão para o marido. Barbieri participou da fundação da Associação Lar Maria e Sininha, uma creche e orfanato em São Paulo, que ele visitava frequentemente e colaborava - com amor e dinheiro.
"Isso foi muito importante para mim depois da perda da Sininha, no sentido de ver quantas pessoas precisam de você", diz. "Isso foi muito marcante."
Quase três décadas depois, Barbieri passou por mais um momento de reflexão e transformação. Em 2012, ele foi diagnosticado com câncer. Convidou todos os seis filhos para uma visita a sua casa em Boca Raton, mas não contou a razão do encontro, que, na sua cabeça, seria uma despedida.
"Foi emocionante. Eles vieram sem ter conhecimento de nada. Eu fui comunicá-los só no final", diz, emocionado, ao lembrar que ficou impressionado com a amizade entre os irmãos. "A vinda deles foi um fator de alegria. Mas para mim a maior realização pessoal é ver a união entre eles."?
Barbieri diz que estava preparado para partir, mas hoje está livre da doença e se sente mais forte e renovado.
"Quando o médico falou: 'desiste, porque seu câncer acabou', eu quase que me senti despreparado para a vida. Eu estava bem prontinho, com malas feitas", brinca. "Mas hoje vivo com muito mais paixão, muito mais humanidade e uma vontade ainda maior de ajudar o próximo."
E agora com uma perspectiva de vida mais longa, ele está entrando em 2014 com otimismo: tem planos de inaugurar sua décima empresa, fechar o ano com sete unidades da Vivenda do Camarão na Flórida e depois seguir país afora. E o que não lhe falta é fôlego e disposição.
Fonte: Estadão